#11 – Batman: Guerra ao Crime

Olá!
Hoje eu trouxe a vocês uma obra com a qual eu tenho uma particular história de admiração.

A primeira vez que li essa HQ, eu estava na Gibiteca Henfil, em São Paulo (Não conhece? Saiba mais aqui). E fiquei particularmente impressionada. Até então, nunca tinha lido uma HQ tão realista do Batman. Mas sobretudo, nunca tinha ficado com a impressão que fiquei. Um soco no estômago, foi isso que senti. Ali eu percebi talvez o verdadeiro fundamento da história do Batman. Claro que havia toda a coisa dos vilões, o elemento místico da Hera Venenosa, a insanidade do Coringa, a obsessão da Mulher-Gato, o transtorno mental de Duas-Caras. Mas o maior inimigo do Batman não estava em um casaco roxo ou em um macacão de látex.

O maior inimigo do Batman estava nas ruas, nos becos escuros, se aproveitando da fragilidade de alguns e da tendência à maldade de outros. O crime é um elemento a ser combatido, como Batman jurou depois da morte dos seus pais. Mas não é fácil combater algo que está em todos os lugares, mudando de forma, mudando de pessoas… E as pessoas não lidam com a violência da mesma forma.
E isso é explorado nessa sensacional HQ. Não deixe de ler Batman: Guerra ao Crime (Batman – War on crime, 1999, roteiro de Paul Dini, arte de Alex Ross).


A primeira coisa que você vai notar é a técnica utilizada: o Fotorrealismo. Não é foto, mas vai te enganar a ponto de parecer ser uma foto de tão real que é o desenho. Ou seja, já começamos com uma obra madura, densa, para um leitor que gosta desse lado menos lúdico e mais realista e cru do Batman. A história não se fixa no lado “super-heróico”, mas sim nas suas reflexões sociais sobre a cidade, as pessoas e a violência.

Essa história foi lançada em comemoração aos 60 anos da criação do Batman (1939-1999). Não possui balões de quadrinho, pois a história é uma narrativa do próprio Wayne. A história começa com o foco em um bairro decadente de Gotham, uma das piores áreas da cidade, corrompida pelos assaltos, pela violência e pelo descaso das autoridades com as pessoas que passam necessidades ali. E é claro que isso deixa Bruce insatisfeito.

Planeja-se fazer investimentos naquela área, mas eles não visam, de forma alguma, ajudar as pessoas. A companhia de Wayne é convidada para investir em um projeto milionário que transformaria essa região decadente em um centro comercial. Paralelamente, encontramos a história do menino Marcus. Para começar, mostrarei uma imagem que, para mim, já fez a HQ inteira valer a pena:

A partir daí, podemos perceber o que chama tanta atenção nessa obra. Marcus é um menino cujos pais foram assassinados por criminosos em um assalto – assim como Bruce Wayne, aos oito anos. Bruce Wayne poderia ter tomado vários caminhos, o alcoolismo, as drogas, a violência – mas partiu para combater o crime, a violência que matara seus pais. Marcus não teve essa força, e foi sugado pela boca maldita do crime. Mas por que? Porque Wayne não poderia ter seguido aquele caminho? Como ele mesmo reflete,

“Que tipo de homem eu teria me tornado se as coisas tivessem sido diferentes? Se, em vez de usar minha fortuna para combater o crime, eu me permitisse ser dominado por ela e todas as suas tentações? Se eu realmente fosse o que pareço ser para os outros?”

Marcus é um reflexo de Batman, distorcido e desgarrado. É o que Batman seria se tivesse feito outra opção.
Batman precisa de atitudes globais para combater o crime. Os bandidos, as armas, as ocasiões, os políticos corruptos, os policiais que não trabalham bem. Mas não é isso. Às vezes é preciso mais do que jogar os bandidos na cadeia e cuidar para que o braço da lei seja pesado com ela. É preciso cuidar de quem ficou fora das grades, mas que continua preso – preso no sofrimento, na dor, na amargura e nas feridas causadas por um ciclo de violência que nunca termina. É preciso cuidar de Marcus, que teve sua vida dilacerada pelo crime – e cada vítima de violência cujo destino pode facilmente se pervertido. E a violência não está somente nos becos sujos e escuros. Está também nos arranha-céus lotados de políticos com ternos impecáveis e reputações imundas. Ali, onde tudo se resolve com influência, e o que não se resolve com influência se resolve com dinheiro.

Enfim, é uma obra intensa em todos os sentidos. Não deixe de lê-la. Acho que é uma das obras mais adultas do Batman que já postei aqui. E vai te fazer perceber o processo que Batman passa todos os dias, e por que ele insiste num ideal criado há muitos anos. Ele tem motivos. E você vai perceber quais.

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