#89 – O Tempo e o Batman

“O amanhã pertence ao Batman.”

Olá!
Como as coisas se complicaram nessas últimas semanas… É meu penúltimo semestre da faculdade e o laboratório onde eu trabalho esteve envolvido em grandes seminários e congressos que exigiram muito de mim e de todas as meninas que trabalham comigo. E o resultado foi mais de um mês sem postar aqui no Batman Guide! Peço desculpas a todos vocês por esse atraso. Entretanto, nem tudo são más notícias: são minhas primeiras férias de trabalhos e estudos desde o começo de 2012! Desde então, quando eu não estava trabalhando, estava estudando, e vice-versa. Agora estou de folga dos dois! Vamos tentar compensar o tempo perdido então?

A HQ de hoje foi publicada na Batman #700, em uma edição gigante de aniversário. Conta com o roteiro de Grant Morrison e a arte de Tony Daniel (pgs. 3-10), David Finch (pgs. 11-18), Andy Kubert (pgs. 19-27) e Frank Quitely (pgs. 28-33). Além disso, tem uma galeria de imagens que conta com artes de Guillem March, Dustin Nguyen e Bill Sienkiewicz, entre outros. Sim, esse é o grupo de DINOSSAUROS responsáveis por essa história. Eu tenho a impressão que você não deveria deixar de lê-la.
Aprecie “O Tempo e o Batman”! (“Time and the Batman”, agosto de 2010)!

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Você, leitor do Batman Guide, sabe o que acontece quando Grant Morrison está no roteiro de uma obra. É hora de abandonar alguns conceitos pré-estabelecidos: tempo, espaço, consciência, realidade, sonho. O conceito que você precisará redefinir para esta HQ é, como o próprio nome da história diz, tempo. O templo é flexível.
Como comemoração da edição #700, o que temos é uma viagem pela trajetória do Morcego ao longo dos exatamente 40 anos de história. Cada período da história de Batman é homenageado com primor e detalhismo que irão agradar aqueles que, como nós, tem interesse no caminho que o Morcego percorreu desde o caráter brincalhão da Era de Prata até seu estabelecimento como o Cavaleiro das Trevas sério e implacável que ele se tornou.
Introduções feitas, vamos para a história.

001Primeira parte: o “Ontem”.
Batman (Bruce Wayne) e Robin (Dick Grayson) estão sendo mantidos reféns por Coringa, Mulher-Gato e outros vilões como Chapeleiro Louco, Charada e Espantalho. A arte dessa parte é riquíssima em detalhes. Vou pedir para que você leia com cuidado um dos enigmas que Charada faz em uma dessas páginas. Ao identificá-lo, tente respondê-lo mentalmente.
Os heróis estão sendo submetidos a uma máquina de hipnose temporal. Trata-se de uma Máquina de Possibilidades; nas palavras de Batman, ela “gera visões de como as coisas poderiam ter sido”. Mas nem por um minuto vocês devem se esquecer que estamos falando do Goddamn Batman: levará três minutos para a máquina ser reiniciada pelo doutor Carter, e ele avisa aos vilões que estará livre das algemas em apenas dois. Coringa não acredita nisso. Ele acha que conseguiu quebrar Batman, “atropelá-lo” – lembre-se da sua participação nos eventos de “Batman: A Luva Negra”. Inconformado, ele faz uma promessa: ele irá enviá-lo de volta para o grande dia em que Batman nasceu, e dar a Batman a chance de desfazer a sua própria criação, abortando os demônios que o levaram a ser o que é. Através do Livro de Piadas do Coringa.
002Bem otimista esse Coringa, né. Ele realmente acha que o Batman ia deixá-lo brincar de deus dessa maneira? Claro que o Morcego consegue se desvencilhar do plano de Coringa e mandar os vilões para os cuidados de Gordon.
Entretanto, na volta para casa, Batman e Robin começam a conversar… E se Batman tivesse realmente voltado no tempo e impedido Joe Chill de matar seus pais? (Isso me lembrou um dos paradoxos das viagens no tempo, mais especificamente o Paradoxo do Avô, em que se discutem as implicações de uma pessoa voltar no tempo e matar seu avô, que por sua vez não conheceria sua avó, ou seja, essa pessoa não existiria). Entretanto, essa possibilidade não tira o sono de Bruce porque, segundo ele, “somos o que somos e não podemos mudar o que já aconteceu”. É uma filosofia que eu, particularmente, adoto para a vida.

003Segunda parte: o Hoje.
Anos depois. Agora Batman é Dick Grayson, e Robin é Damian Wayne. O doutor Carter Nichols está morto. Um tiro no coração, mas sem sinal da arma. Um sorriso no rosto. E o capacete da Máquina de Possibilidades ao seu lado. Desconfiado, Grayson acha que seria uma boa idéia aparecer no Beco do Crime, onde os pais de Bruce morreram – e o conceito de Batman nasceu – para levar flores em homenagem a Martha e Thomas. Mas como é pedir muito que Batman e Robin tenham UM minutinho de paz em Gotham, eles se deparam com uma legião de bandidos fazendo um arrastão na cidade. Ah, os bons e velhos quadros de porradaria, dentes quebrados e maxilares deslocados, uma cortesia de Batman e Robin.

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004Aparecem uns vilões a mais que contam sobre um leilão ilegal do Pinguim e Batman avisa, sorrindo, que está de olho neles. Na boa, acho que eu me assustaria menos levando umas porradas do Batman do que sendo alertada por ele com esse sorriso perfeito meio maníaco. Esse jeito do Dick Grayson desagrada a alguns, mas é indiscutível que só piorou o medo que os vilões tinham de Batman.
005-2Você vai notar que, da página 18 à 19, a arte sofre uma mudança significativa; a arte fica a cargo de Andy Kubert. Particularmente, eu não curti o desempenho dele nessa HQ. Ele fez os personagens com queixos mega-projetados para a frente e os lábios inferiores muito evidentes. Fica meio difícil de enxergar a seriedade nas coisas com um Batman fazendo beicinho. Mas tudo bem, ninguém acerta o tempo todo. Dick postula sobre a morte de Charter: foi suicídio. Um suicídio com um tiro no coração e sem sinal da arma? Oh, well, quem sou eu para questionar o Batman, não é?

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#83 – Batman e Robin (“Batman: Renascido” – 4ª Parte)

Reborn

Olá!

Ao longo dos últimos posts da saga “Batman: Renascido”, temos conhecido um pouco mais sobre Batman e Robin.
Mas não Batman e Robin como estamos acostumados. Agora temos uma nova configuração da Dupla Dinâmica. Batman é Dick Grayson, o filho pródigo de Bruce Wayne – agora desaparecido/morto. E Robin é… Damian Wayne. O incontrolável, insolente e impulsivo filho de 10 anos de Bruce Wayne, treinado pela Liga dos Assassinos para ser uma máquina mortífera, estava sob os cuidados de Batman antes de seu desaparecimento – numa tentativa de refrear sua personalidade explosiva. Como as coisas chegaram até aqui? Como essa nova Dupla Dinâmica vai reagir diante dos inúmeros desafios que só Gotham City pode proporcionar?
É o que vamos descobrir lendo a HQ de hoje. Prepare-se para ler “Batman e Robin” (roteiro de Grant Morrison e arte de Frank Quitely)!

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001Antes de começar, vou recapitular um pouco a decisão de Dick Grayson de fazer de Damian Wayne o seu novo Robin citando o penúltimo texto de Augusto“Dick precisava dele ali bem na frente de seus olhos, nada melhor do que fazê-lo Robin e ir ensinando as coisas já na linha de fogo.”
Claro que não seria fácil. Damian não é fácil de lidar. E em todas as ocasiões possível a provocação entre Dick, Tim e Damian era muito clara, muitas vezes evoluindo até para a violência física. Mas agora é hora de deixar essas rinhas de lado visando um objetivo maior: proteger Gotham do caos que se instaurou com o desaparecimento do Morcego.

003Chega até a dar pena dos marginais de Gotham, que acharam que tinham se livrado para sempre do pesado punho da justiça que Batman socava no meio da cara deles. Bom, o Morcego está de volta, com um belo e high-tech Batmóvel. Eles perseguem um grupinho meio estranho liderado por um homem com cara de sapo (ah, os vilões excêntricos da cidade…) que se refere ao seu chefe como Pyg. Uma transação de drogas, cujo pagamento é feito em… Dólares? Euros? Barras de ouro que valem mais do que dinheiro? Não, amigos. Dominó. Pagamento feito em dominó. O que isso significa?
Para descobrir, Dick se utiliza da velha técnica de seu mestre de ameaçar jogar o vilão-sapo, chamado Toad, de um penhasco de 90 metros – mas essa técnica não funciona bem, porque o batráquio não abre a boca. Deve estar costurada (tá, essa foi ruim).

006Como Dick Grayson está se sentindo no papel de Batman? Péssimo. Não que ele esteja perto de desistir, longe disso. Tampouco ele está indo mal –é provável que Batman ficasse orgulhoso. Mas apesar de ter sido treinado para isso, ele nunca pensou que efetivamente que PRECISARIA assumir esse papel. Só a perspectiva já o fazia ter insônia e medo. Nunca achamos que vamos perder alguém que amamos, mesmo sabendo que isso irá acontecer um dia, nunca estamos preparados.
004E Damian… Apesar de toda a impulsividade e todas as coisas que nós já estamos cansados de saber sobre o menino, por trás da máscara de insolência existe a coragem típica dos Wayne, a determinação de aprender, de aprender a fazer o que é correto – apesar de sua criação baseada no assassinato como um recurso banal, ele quer aprender a fazer o certo. Falando assim parece que o garoto é perfeito, mas ele está louco pra virar o Batman. É claro que ninguém vai deixar um garoto de 10 anos ser o Batman, então no momento ele vai ter que se contentar com o R sobre seu peito mesmo. O crime que se cuide.

Bonito ver Batman e Robin atendendo o chamado do Comissário Gordon, que vem ligando o Bat-sinal incessantemente desde que Batman sumiu. Eles justificam o sumiço dizendo que estavam “melhorando os equipamentos”. Gordon percebe a diferença na estatura física de Batman (Dick sempre foi ligeiramente menor, mas compensava esse pequeno empecilho com a sua agilidade de acrobata).

Batsign

008E qual é a zona da vez em Gotham? Vamos por partes. Tem um vilão tocando o terror em Gotham (novidade). Um carniceiro com uma máscara de porco. Isso já seria suficiente para assustar um desavisado, mas ainda temos um adicional: o porquinho aí curte amarrar pessoas e colocar máscaras de rostos novos fervendo sob os rostos dos seus inimigos. Máscaras de bonecos. Welcome to the mad house.
Não pense que acabou. Tem uma trupe de circos “extrema” causando problemas em Gotham, chamada “Le Cirque d’Etrange”. Um rapaz em chamas que coloca fogo em quem encosta, uma mulher barbada com obesidade mórbida chamada Lona, ninjas carecas amarrados pela cintura que tem o desplante de chamar Batman de “aberração exibida”. A luta evolui de tal forma que Damian acaba se afastando de Batman e desobecendo suas ordens, como falarei melhor a seguir. E com o que essas lindas crias do pior que há em Gotham estão trabalhando? Drogas de controle mental e traficantes russos. Uma combinação explosiva.

005A noite foi horrível, quatro policiais mortos e seis gravemente feridos. Bruce realmente se orgulharia? Nesse momento, fica difícil dizer que sim. Robin está tendo imensas dificuldades em se ajustar ao método de “uso conveniente de violência”. Ele acaba indo muito além no papel de intimidar um suspeito, ecos de seu severo treinamento na Liga dos Assassinos. Mais do que isso, ele sente falta de seu pai, da autoridade que ele impunha, o único que conseguia dar a ele uma ordem de verdade. Ele enxerga Dick como um mero imitador de Batman – e a cidade toda parece pensar isso. Talvez seja hora de encarar o manto de Batman sob uma nova perspectiva. Uma perspectiva de performance, como nos tempos de circo. Uma interpretação. Potencializar as qualidades de Grayson, ao invés de criar um memorial sobre Batman. Um verdadeiro herói. Essa decisão foi tomada sob influência de Alfred, como falarei também no fim do texto.

Robin, nossa pequena ave impulsiva, foi pega como refém pelo excêntrico doutor Pyg (traduzido aqui como Doutor Porko). Cabe aqui uma pequena citação do próprio Grant Morrison a respeito desse vilão; ele foi descrito como (tradução minha):

“[…] um dos mais estranhos e insanos personagens já vistos em Batman. Nós sempre ouvimos falar sobre Batman enfrentando vilões loucos, mas tentamos fazer esse cara parecer genuinamente perturbado e incoerente.”

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