“Esse boneco vai amaldiçoar qualquer pessoa que tocar nele!”
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O vilão de hoje já apareceu em algumas HQs, quase sempre relacionado ao Pinguim. Na verdade, não se trata de apenas um, mas de dois vilões. Ventríloquo e Scarface. O primeiro é Arnold Wesker, um homem que nunca foi notável em nada, mas com a habilidade de projetar sua voz – a arte da ventriloquia. E o outro é um boneco de madeira… Com vida própria. A explicação dos psicólogos é que Wesker projeta toda a raiva que acumula dentro de si no boneco, como um sintoma da fragmentação múltipla de sua personalidade. Mas na HQ de hoje veremos que a história pode não ser asim tão racional…
Cuidado com “A Maldição de Scarface” (Batman/Scarface: A Psychodrama, roteiro de Alan Grant e arte de Charlie Adlard, 2001)!
Antes de começar, gostaria de propor uma reflexão sobre o título dessa HQ em inglês: “Batman/Scarface: A Psychodrama”. A Sociedade de Psicodrama de São Paulo nos diz que o psicodrama foi criado por Jacob L. Moreno, que o definiu como “a ciência que explora a verdade por métodos dramáticos”.
“Inspirado no teatro, o Psicodrama propõe o desempenho de papéis pela dramatização como método de desenvolvimento de papéis. Drama significa ação ou realização. O Psicodrama possibilita o desempenho livre de papéis e seus vínculos ampliando a espontaneidade e a criatividade.”
Em toda a HQ, passaremos por um exame psicológico do personagem de Arnold e do próprio Scarface. Atente-se a isso no roteiro.
A história começa com o boneco Scarface sendo queimado por Arnold, sob orientação e supervisão do Dr. Jeremiah Arkham. E a partir dessa deixa, somos levados a conehcer a história da criação desse inofensivo boneco – ou nem tão inofensivo assim…
O local é a prisão Blackgate, há muito tempo atrás. Um preso está sendo enforcado, enquanto um padre reza por sua alma. O diretor do presídio, que acompanhava a execução, o adverte:
“Padre, trezentos e treze homens foram executados no Trono dos Enforcados de Blackgate… E aposto que Deus não guardou nenhuma dessas almas repugnantes!”
Nesse momento, como uma espécie de “resposta divina”, um trovão quebra a forca no meio, inutilizando-a. Um tempo depois, um preso chamado Donnegan está reutilizando os pedaços de madeira que sobraram da forca para construir um bonequinho, que lhe fará companhia durante sua sentença de prisão perpétua. O nome do boneco é Tronquinho. O guarda que supervisiona Donnegan nos conta o que será a chave para entender essa HQ:
“Dizem que as almas de cada um daqueles enforcados estão presas até hoje nesse tronco. Confia em mim, Donnegan… Esse boneco vai amaldiçoar qualquer pessoa que tocar nele!”
O preso não ouve o que o guarda diz, e leva Tronquinho para todos os cantos. Donnegan divide a cela de Blackgate com Arnold, e certa noite o flagra admirando Tronquinho; enciumado, quebra a cara de Wesker e o manda ficar longe do seu boneco. Mas naquela noite, durante o sono de seu dono, Tronquinho fala com Arnold – e diz que nessa noite eles fugirão, não importam o que tenham que fazer. Nessa noite, dois presos são mortos brutalmente e Arnold foge com Tronquinho – que, agora, não é mais Tronquinho, e sim Scarface. O nome Scarface é uma referência ao mafioso Alphonsus Gabriel Capone – ou simplesmente Al Capone, conhecido por suas intensas atividades criminosas nos Estados Unidos nas décadas de 20 e 30.
Assim começam os trabalhos de Ventríloquo e Scarface. Apesar de Arnold protestar contra as atitudes criminosas do boneco, afinal ele só quer ser um artista e não um criminoso, Scarface parece exercer um estranho controle sobre sua mente.
De volta ao Asilo Arkham dos dias atuais, Scarface foi queimado e agora Arnold poderá se regenerar e voltar a se integrar na sociedade, certo? Bem… Talvez não. O boneco não queimou totalmente. Dois pescadores encontram o boneco; quando um deles pega o boneco, e diz as amáveis palavras “Credo! Que coisinha mais horrorosa!”, coincidentemente escorrega numa pedra e bate a cabeça no chão.
Scarface é encontrado alguns dias depois por um Marvin, menininho com alguns problemas na escola. Ele não tem amigos, seu rendimento escolar é sofrível, ele tem atraso para aprender, é maltratado pelos colegas… (Lembre-se dessa referência, ela será útil no fim do texto.) Decide adotar o boneco como seu amigo especial. Isso não evita que ele sofra bullying na escola, ainda mais depois de levar o boneco de madeira podre e roupas esfarrapadas para a escola.
Ele o leva para a aula, para uma apresentação, e decide apresentar aos colegas o dom que adquiriu de projetar sua voz para o boneco. Contudo, Scarface tem alguns problemas de dicção – não consegue pronunciar bem o M, o B e o P – o que vira motivo de chacota para os alunos da classe. O boneco ameaça a vida dos alunos, e Marvin é expulso da sala – ainda sobre protestos de que não fora ele quem fizera aquelas ameaças, e sim Scarface. Nada feito. Ao tentar jogar o boneco longe, Marvin o acerta no alarme de incêndio; as crianças saem correndo desesperadas, e o menino que batera em Marvin pela manhã é pisoteado e esmagado pelas crianças. É. Sinistro.
Enquanto isso, Arnold foi liberado do Asilo Arkham. Agora ele está reabilitado, pronto para começar um caminho novo como artista, promover a alegria e a diversão… Com uma nova boneca de madeira. Lola é o seu nome. E é uma dama bastante desbocada, diga-se de passagem. Passa o show inteiro provocando Pinguim. E sabemos que Pinguim não tolera que ninguém o exponha ao ridículo – lembre-se que na HQ “Dor & Preconceito” ele destrói a vida de um cozinheiro que apenas esboçou um sorriso ao olhar para seu nariz. Ele precisa se vingar agora.
Enquanto isso, Scarface aparece no sonho de Arnold (ou será que não era sonho?), muito irritado por ser sido traído pelo seu antigo parceiro, dizendo que deveria matá-lo por tal traição. Arnold implora por sua vida e Scarface aceita que voltem a ser sócios, com uma condição: que ele mate a boneca Lola. O Ventríloquo se irrita, e Scarface incorpora o espírito de todos os 313 enforcados, assassinos e maníacos que estavam enclausurados em seu tronco.
Instantes antes da boneca ser morta, o ajudante de Arnold o interrompe. Mas a história dos dois ainda não acabou.