Olá!
Talvez vocês não se lembrem, mas eu tenho uma seção aqui no blog chamada “Crônicas do Leitor”, em que os leitores são convidados a compartilhar suas experiências com os quadrinhos do Batman – e de um modo geral também. Na primeira crônica, a Lívia Bomediano nos contou sobre como seu pai a influenciara nos gostos literários.
E hoje, o Pedro Witchs nos honrou com um depoimento sobre suas experiências com Batman. O texto está lindo! Obrigada por compartilhar, Pedro!
E caso você também queira mandar um texto, entre em contato!
Não sei o que eu via nele, nem sei dizer por que ele era o que mais me agradava. Na época, nem fazia comparações do tipo “ele não tem superpoderes”, “usa apenas sua inteligência investigativa e seus gadgets”. Só achava o uniforme dele legal. Acho que era a barra da capa imitando o contorno da asa dos morcegos. Dava um efeito legal quando ele se jogava dos prédios. O fato é que sempre preferi o Batman aos outros (super)heróis. Lembro-me que antes dos seis anos de idade, em um Carnaval, eu queria me fantasiar de Batman, mas minha mãe preparou uma linda fantasia de palhaço para mim. Quando cheguei ao bailinho, o resultado foi uns cinco batmans correndo atrás de mim, que estava parecendo um Coringa (uma pena na época o Coringa não ter tanto apreço pelo público como acabou ganhando depois da interpretação do Heath Ledger). Mas essa não é a história que eu quero contar. Quero contar sobre uma coisa relacionada ao Batman que acho que foi importante para a minha formação.
Quando entrei na pré-escola, em meados da década de 1990, ganhei minha primeira lancheira. Essas de plástico em que as crianças levam o lanche que vão comer na hora do recreio. Como vocês devem saber, a escolha da primeira lancheira diz muito sobre o que a família espera de uma criança e as questões de gênero não estão fora do que os pais depositam em um filho ou em uma filha. Meninos geralmente ganham lancheiras relacionadas a super-heróis, que representam a força masculina, ou a automóveis velozes, que representam toda a potência esperada de um homem. Nos dias de hoje, Ben 10 e suas variações. Meninas, pelo menos na minha época, tinham menos possibilidades, o que devia ser uma lástima. Todas com lancheiras cor-de-rosa, se possível, da Barbie. Desse modo, elas teriam uma boa referência para crescerem sendo um modelo de feminilidade desejado pela sociedade. Não sei como está essa situação nos dias de hoje.
Só que entre tantas lancheiras azuis e rosas, ganhei uma lancheira laranja. E o melhor: do Batman! Claro, não podia deixar de ser de super-herói, afinal de contas, me inventaram menino. Como nunca fui muito ligado a carrinhos (a autora deste blog tem conhecimento sobre a minha relação com automóveis), super-herói foi a melhor escolha. Ainda mais um que eu gostava tanto. O problema, e que acredito que não foi percebido pelos meus pais, é que a minha lancheira laranja do Batman era mais diferente do que se podia esperar. O desenho “adesivado” nela ilustrava um Batman em apuros no alto de um prédio. Batman estava imobilizado por um chicote que prendia seu tronco e seus braços. Na outra ponta do chicote, ela, em látex preto e salto alto. Mulher Gato, uma mulher, dominando poderosa e violentamente (na perspectiva foucaultiana) Batman, um homem. Não sei vocês, mas creio que essa imagem colaborou, mesmo que subliminarmente, com a constituição do que penso sobre as mulheres, sobre o movimento feminista, sobre a igualdade de gênero. Uma simples lancheira laranja do Batman…